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21 de junho de 2012

O Que o Rio+20 tem a ver com a minha fé?

Dos dias 19 a 22 de junho, líderes dos 193 países que fazem parte da ONU estão reunidos na cidade do Rio para discutir desenvolvimento sustentável. Essa conferência é, de fato, muito importante pois discute a participação política dos países com relação ao desenvolvimento sustentável do planeta. Não é anedota. Todos sabemos que o futuro do planeta está comprometido. Se você for a cidade de São Paulo, por exemplo, perceberá que existe uma densa nuvem negra que cobre a cidade. Não, não é chuva se formando, mas o alto grau de poluição que a cidade alcançou. Bem, ela não é a única, e poluição não é o único problema que o planeta enfrenta.

A Escritura diz que "toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto" (Rm 8.22) e sabemos que isso é assim porque o homem pecou e a Terra foi amaldiçoada por causa dele e, com ela, todas as criaturas. Contudo, Romanos 8.19 diz que a criação, ou a natureza criada, aguarda com grande expectativa a manifestação dos Filhos de Deus. E aí você se pergunta: o que o Rio+20 tem a ver com a minha fé?

O Salmo 24.1,2 diz: "do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem; pois foi ele quem fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre as águas." O Salmo diz que a terra é do Senhor por direito de criação, pois foi Ele quem a fundou sobre os mares e a firmou sobre as águas (v.2). De fato, "no princípio criou Deus os céus e a terra" (Gn. 1.1). Sendo assim, a ordem criada não pertence a Satanás, mas a Deus. E se do Senhor é a terra, e nós somos do Senhor, logo, somos mordomos e/ou administradores e deveríamos nos comprometer a administrar adequadamente aquilo que o Senhor criou. Assim, preocupar-se com o futuro do planeta é um começo. Contudo, devemos ser levados a ação, e não apenas elogiarmos os esforços do Greenpeace. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.[1]

Não é meu objetivo dizer para você ser "ecologicamente consciente" e, assim, esquecer do seu próximo, como se cuidar de coisas e não de gente fosse o que importasse. Terminantemente não é isso! Mas, de acordo com o Salmo que lemos, é do Senhor tanto a terra e tudo o que nela existe (plantas, animais, rios, mares, bosques, deserto, selva e natureza como um todo), como o mundo e os que nele vivem (todos os homens). Assim, somos convocados a cuidar e zelar pela criação, demonstrando a glória de Deus em tudo o que fazemos. O amor não deve apenas ser pregado, mas encarnado. Na verdade, é dever de todo cristão tornar o amor de Cristo visível, palpável, tocável e cheirável, na terra. Não é "esquecer dos homens e cuidar das coisas", nem "esquecer das coisas e cuidar dos homens", mas ter o compromisso de cuidar de ambos, visto ser ambos parte integrante do planeta onde vivemos.

Deus ordenou a Adão e Eva que administrassem a terra, tornando-a produtiva e habitável (Gn. 1.26). Desde então, cada homem faz-se responsável pela criação diante do Senhor de toda a terra. Isto equivale dizer que o Evangelho de Cristo não visa apenas salvar o homem do pecado e do Inferno, mas levá-lo a agir como instrumento transformador da sociedade na qual está inserido, pois Deus nos criou como seres sociais para que cuidemos de nós e da terra que Ele nos entregou.[2]

"Deus fez o homem um ser  espiritual, físico e social. Como ser humano, o nosso próximo pode ser definido como 'um corpo-alma em sociedade'"[3] escreveu John Stott. Assim, é nosso dever cuidar do homem todo e todo o homem e do ambiente onde ele vive. Não quero dizer com isso que devemos "construir um mundo melhor e feliz". Isso é ilusão! Mas quero asseverar que enquanto estivermos aqui, devemos fazer todo o bem que estiver em nosso alcance, cuidando do homem criado por Deus e da criação como um todo, zelando para que nenhum mal seja feito àquilo que Deus criou. Não é querer salvar o mundo com as próprias mãos, inspirando-se nos "Vingadores". Não há super-heróis entre nós! Mas há os que são e estão conscientes de que, se fizerem sua parte, estarão contribuindo no todo, pois o todo é confirmado quando cada um, individualmente, faz o que deve ser feito.

Os dois temas em foco da Conferência Rio+20 são: (1) a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e (2) o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. Algo no primeiro tema soa muito estranho: a utópica "erradicação da pobreza". diga-me em qual momento da história não houve gente pobre? o próprio Jesus disse que os pobres sempre teríamos conosco (Jo. 12.8). Erradicar a pobreza é impossível, mas minimizá-la ou atenuá-la em nosso contexto é algo ao qual precisamos nos engajar. Atos 4.34, 35 diz que na igreja primitiva "não havia necessitado algum; porque todos os que possuiam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés do apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha". A proclamação do Evangelho e a diaconia (serviço) da igreja eram inseparáveis (At. 4. 34,35; 6. 1-7). Isto fez com que a igreja em Jerusalém caisse na graça do povo (At. 2, 46,47). Que possamos aprender com eles.

Termino com uma frase de C.S. Lewis: "Eu acredito no cristianismo como eu acredito no sol, não por aquilo que ele é, mas que através dele eu posso ver tudo ao meu redor." A verdadeira religião - que, segundo o apóstolo Tiago envolve ação social, Tg. 1.27 - nos leva a confessar Cristo como Senhor na relação de envolvimento com as criaturas e a criação. Como Stott disse, "se Jesus amou o mundo de tal maneira  que entrou nele através da encarnação, como podem seus seguidores  proclamar que amam o mundo procurando escapar dele?." Cuidar da criação é algo ao qual precisamos nos envolver.

Até mais,
Cleison Brügger.

Fontes:
[1] Pacto de Lausanne
[2] Lições Bíblicas, 3º Trimestre de 2011, CPAD.
[3] Stott, John. "Cristianismo Equilibrado". 
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18 de junho de 2012

Cheios do Espírito!


Ninguém, por mais talentoso, persuasivo, dotado, cursado, letrado ou profissional que seja, deveria ter a audácia de se apresentar em nome de Deus sem que, antes, tenha estado com Ele. Ninguém deveria ousar se apresentar no altar do Senhor antes de se apresentar ao Sumo Sacerdote.

Os ministros, ou qualquer um que se põe em posição de sacrifício, deve conscientizar-se de que, ou ele tem do Espírito, ou tudo não passará de tempo perdido! Homens e mulheres só poderão ser poderosos no que fazem de acordo com a consciência de que, sem o Espírito, tudo estará perdido!

Quem sabe muitos desacreditaram do cristianismo em seu nascedouro, tendo como base o fato de que o Senhor havia deixado o apascentamento de Seu santo rebanho nas mãos de homens inscientes? só que o que muitos não sabiam, era que aqueles homens estavam cheios do Espírito Santo! Eles não tinham a preocupação de que alguma coisa daria errado pois eles não usavam métodos humanos e carnais como hoje estamos usando, mas dependiam tão somente do Espírito! Foi porque Pedro estava cheio do Espírito  que teve a ousadia de enfrentar os sacerdotes, os saduceus, e os anciãos de Israel perante o sinédrio, pois o mesmo tinha aquecidas em seu coração as palavras do Senhor: "Mas, quando vos entregarem, nos vos dê cuidado com o que haveis de falar, porque, naquela mesma hora, vos será ministardo o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós" (Mt. 10. 19,20). Oh, quão poderoso é o homem que se coloca na dependência do Espírito! Quão poderoso é o homem que toma o púlpito depois de ter se esvaziado por completo e de ter se encontrado com o Deus Todo-Poderoso! Se é o Espírito quem convence o homem e se é Ele quem regenera, que as minhas palavras pereçam, mas que as palavras do Espírito emanem do púlpito e aqueça o coração de cada ouvinte. "Não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?" (Lc. 24.32). Ora, não há como ouvir as palavras de Jesus e permanecer inerte! Quando Jesus disse ao morto Lázaro, "Vem para fora!", Lázaro imediatamente obedeceu a sua voz e, mesmo estando morto, saiu da sepultura!

Todos aqueles homens incrédulos que estavam no sinédrio estavam informados de que Pedro e João eram homens iletrados e indoutos, mas eles, vendo a ousadia das palavras dos santos apóstolos, se espantaram e entenderam que aquilo tudo era resultado de uma só coisa: aqueles homens haviam estado com Jesus (At. 4.13). Oh, um ministro cheio do Espírito não é conhecido pela sua capacidade intelectual, de organizar idéias, filosófica ou teológica, mas sim, porque antes, ele esteve com o Senhor! Ah, que sempre que tivermos que nos apresentar aos outros, mesmo quando estivermos nos preparando para levantarmos da cama, que o Espírito nos guie a Cristo e que logo cedo nos encontremos com o Senhor! Que não tenhamos a ousadia de tomarmos qualquer microfone na igreja até que estejamos certificados de que nossa fronte está gotejando da unção do Espírito e que, antes de nos apresentarmos as pessoas, nos certifiquemos de que estivemos com o Senhor! Assim, quem olhar para nós concluirá como concluiram aqueles homens do sinédrio: decerto, antes de estar aqui nos falando, esteve com o Senhor! Olha como sua face resplandece!

Oh, que o amor e a graça de Deus nos conduz a isto!

Até mais, 
Cleison Brügger.
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5 de junho de 2012

Salvo pela "maravilhosa graça": a história de conversão de John Newton


John Newton era pastor de uma igreja crescente em Olney, na Inglaterra, quando compôs a letra daquele que talvez seja o hino mais conhecido até hoje – Amazing Grace (i.e., “Maravilhosa Graça”). Newton estava satisfeito naquele contexto de vida campestre. Ele tinha uma esposa carinhosa ao seu lado, desenvolvia um bom ministério pastoral e estava cercado de pessoas amáveis. Naquele momento, Newton desfrutava de uma ótima vida. Mas, 25 anos antes, sua vida estava em ruínas.

Newton nasceu em Londres no dia 24 de julho de 1725. Seu pai, um capitão de navio mercante, o amava, porém era um homem severo e reservado. Por outro lado, a mãe de John era uma mulher atenciosa e cuidadosa. Ela lhe ensinou as Escrituras – capítulos inteiros da Bíblia de uma vez – bem como hinos e poemas. Infelizmente, a mãe de John Newton morreu, duas semanas antes que ele completasse sete anos de idade, e, pouco tempo depois, seu pai casou-se novamente.

Quando o novo casal teve seu próprio filho, ambos deram mais atenção e carinho a este do que a John Newton, de modo que John deixou-se levar pela companhia influente de garotos pervertidos, aprendendo a andar nos sórdidos caminhos que eles trilhavam. Com a idade de 11 anos, ele fez a primeira das cinco viagens marítimas na companhia de seu pai, durante a qual rapidamente aprendeu a xingar e amaldiçoar com os melhores marujos.

Entretanto, durante os cinco anos que se seguiram, John se viu forçado a refletir seriamente sobre a condição de sua alma. Certa feita faltou pouco para que John Newton embarcasse num navio de guerra que levava a bordo um amigo dele. Mais tarde, todavia, ele soube que aquele navio naufragara e que seu amigo, junto com vários outros tripulantes, tinha morrido afogado.

Também foi nessa época que Newton teve um sonho perturbador no qual ele jogava fora um anel que representava toda a misericórdia que Deus lhe reservara. Essas experiências pesaram de forma tremendamente condenatória na consciência de Newton e, por algum tempo, impeliram-no a tratar as questões espirituais com mais seriedade. Contudo, passados alguns dias, ele logo se esquecia daquilo que o levara à sobriedade e continuava sua queda vertiginosa na espiral da perversidade. Newton afirmou: “Eu geralmente considerava a religião como um meio necessário para se escapar do inferno; mas eu amava o pecado e não estava disposto a abandoná-lo”.[1]

Aos 19 anos de idade, Newton foi obrigado a se alistar como aspirante da Marinha para servir no navio HMS Harwich. Passado algum tempo, ele desertou, foi capturado, encarcerado, açoitado a bordo do navio, fustigado com chicote de nove tiras, e rebaixado. Então Newton entrou em terrível depressão e desespero, que o levaram, por vezes, a querer se lançar ao mar e a planejar maneiras de assassinar o capitão que o humilhara. Entretanto, não demorou muito para que a situação dele mudasse, quando o capitão de seu navio fez uma permuta entre ele e marinheiros de um navio que estava preste a zarpar para a África Ocidental à procura de escravos.

A Época no Tráfico de Escravos

Em meados de 1700, o tráfico de escravos era um negócio lucrativo. Mais de 100 mil escravos foram trazidos para o Novo Mundo em navios ingleses.[2] William E. Phipps escreveu: “No século XVIII, a média de mortalidade dos escravos durante o trajeto [da África para algum porto no Caribe ou nos Estados Unidos, onde eram vendidos] em navios ingleses era de aproximadamente quinze por cento”.[3] Cerca de 15 mil escravos africanos morreram a bordo de navios ingleses nessa época.

Em seu novo ambiente, Newton não fez absolutamente nada para ser benquisto pelos oficiais do navio. Ele compôs uma cantiga de escárnio para ridicularizar o capitão do navio e a ensinou para a tripulação inteira. Após capturar uma lucrativa quantidade de escravos, Newton ganhou a permissão de ficar na África, ao longo da costa da Guiné, onde trabalhava para um traficante de escravos inglês que vivia com uma amante africana. Essa mulher não gostava de Newton. Quando Newton contraiu malária, ela o tratou cruelmente, com insultos e subnutrição para que morresse de fome.

Tempos depois, Newton foi injustamente acusado de roubar o traficante inglês. Ele ficou acorrentado com cadeias no convés do navio daquele homem e foi mantido com pouca comida, água e roupa. Na verdade, ele se tornou escravo daquele homem e, por ironia do destino, recebeu o mesmo tratamento com o qual eram tratadas as pessoas que tinham sido escravizadas com a ajuda dele.

Esse tormento durou um ano, até que Newton convencesse seu dono a cedê-lo para um outro traficante de escravos. Seu novo senhor tratou-o com bondade e o colocou na supervisão das “feitorias” (prisões para escravos localizadas nos portos).

Apesar dos olhos vigilantes de seu antigo senhor traficante de escravos, Newton conseguiu enviar algumas cartas para seu pai, nas quais pedia socorro. Certo dia, um navio mercante denominado Greyhound [i.e., “cão pernalta e veloz”] chegou onde Newton estava. Ele fora enviado àquele lugar por ordem do pai de John Newton. A princípio, Newton hesitou em deixar seu negócio que a essa altura já era lucrativo, mas, por fim, concordou em voltar à Inglaterra. Newton foi mantido cativo na África por 15 meses ao todo.

A bordo do Greyhound em sua viagem de volta, Newton demonstrou ser o homem mais profano e devasso do navio. Certa noite, ele estava tão bêbado, que quando seu chapéu caiu no mar pela força do vento, se outro marujo não o agarrasse pela roupa, ele teria se lançado nas águas em busca do chapéu.
Mais tarde naquela viagem, Newton folheou um dos poucos livros que havia a bordo – Imitation of Christ [i.e., “Imitação de Cristo”]. Newton começou a ler esse livro como um mero passatempo, mas, depois, passou a se perguntar o que lhe aconteceria se aquilo que nele estava escrito fosse verdade. Ele ficou com medo e fechou o livro.

Atingido Pela Tempestade

Naquela noite de 21 de março de 1748, uma violenta tempestade se abateu sobre o navio, que por pouco não afundou. Homens, animais e provisões foram arrastados pela força das águas e caíram no mar. Newton orou a Deus pela primeira vez depois de anos. Ele temia estar à beira da morte e, se a fé cristã fosse verdadeira, estava certo de que não seria perdoado. John refletiu em tudo o que fizera naqueles últimos anos, inclusive a atitude de zombar dos fatos históricos do Evangelho, e ficou abalado.

Passados quatro dias, a tempestade diminuiu. Pela providência de Deus, a cera de abelha, que se encontrava no porão de carga, ajudou que o navio continuasse a flutuar. Newton atribuiu a Deus aquele livramento que tiveram. Ele começou a ler o Novo Testamento com mais interesse. Quando chegou à passagem de Lucas 15, John percebeu os impressionantes paralelos entre a sua vida e a vida do filho pródigo.

O navio ficou à deriva por um mês. Os suprimentos se esgotaram. O capitão culpou a blasfêmia de Newton como a causa dos problemas que enfrentavam e cogitou a hipótese de jogá-lo ao mar, à semelhança de Jonas. O navio avariado finalmente conseguiu seguir seu rumo para a Irlanda do Norte, a tempo de não ser apanhado por um vendaval que começava a ocorrer. Newton reconheceu que Deus respondera sua oração.

Ao chegarem em terra firme, Newton tomou a decisão de não mais xingar e blasfemar. Ele chegou a voltar para a igreja. Entretanto, ainda não era um crente em Jesus. Mais tarde ele declarou: “Penso que aquele foi o início de meu retorno para Deus, ou antes, o retorno dEle para mim; contudo, só considero que vim a ser crente em Cristo (no sentido pleno da palavra crente) muito tempo depois daquele momento”.[4]

Regenerado Pela Fé

Naquela noite de 21 de março de 1748, uma violenta tempestade se abateu sobre o navio, que por pouco não afundou. Newton orou a Deus pela primeira vez depois de anos.

Em 1749 Newton zarpou como primeiro piloto de um navio negreiro. A essa altura, ele já tinha se esquecido do compromisso que assumira e recaiu nas antigas práticas pecaminosas. Enquanto buscava escravos ao longo da costa ocidental da África, John Newton foi novamente acometido de malária, situação que o levou a refletir mais uma vez sobre a sua vida. Diante das misericórdias de Deus para com sua vida, ele estava absolutamente convicto da culpa pelos erros que recentemente cometera. Meio delirante e enfraquecido, Newton se levantou da cama e caminhou com dificuldade até um lugar afastado da ilha. Naquele local, percebendo a futilidade de tomar decisões autoconfiantes, “ele se entregou ao Senhor”, escreve Richard Cecil, “para que Deus fizesse com ele aquilo que fosse do Seu agrado. Ao que parece, nada de novo acontecia em sua mente, exceto o fato de que ele estava apto para confiar e crer num Salvador crucificado”.[5] A incrível graça de Deus preciosamente se manifestou no exato momento em que John Newton creu pela primeira vez.

Daquele momento em diante, a vida de Newton mudou gradativamente. No começo, como acontece com a maioria dos crentes, ele não percebia todas as áreas de sua vida que precisavam ser transformadas pela graça de Deus.

Por exemplo, por cinco anos, ele enfrentou lutas quanto à certeza de sua salvação. Todavia, através do encorajamento dado por outro capitão de navio, que também era crente em Cristo, as dúvidas foram vencidas, conforme Newton declarou: “Eu comecei a entender [...] e a ter esperança de ser preservado e salvo, não por meu próprio poder e santidade, mas pelo imenso poder e promessa de Deus, através da fé num Salvador imutável”.[6]

A mudança mais evidente na vida de Newton se deu na área do tráfico de escravos. Um ano antes de crer em Jesus Cristo, John Newton se tornou capitão de um navio negreiro. Nos quatro anos seguintes à sua salvação, Newton realizou três viagens com o intuito de buscar escravos na África e levá-los para serem vendidos no Caribe. Durante essas viagens, Newton liderou sua tripulação em cultos de adoração e em momentos de oração. Contudo, ele também foi forçado a sufocar rebeliões de escravos, chegando a ponto de utilizar instrumentos de tortura para apertar polegares a fim de arrancar confissões.
Mais tarde, Newton se conscientizou de que o tráfico de escravos e sua participação nele eram algo moralmente ultrajante e repulsivo. Ele afirmou: “a força do hábito, o exemplo e o interesse [comercial] cegaram meus olhos”.[7]

A partir do momento em que o Espírito Santo convenceu John Newton dos males e pecados envolvidos no tráfico de escravos, ele passou a trabalhar incansavelmente para extingui-lo num esforço de décadas. Ele foi orientador e conselheiro de um crente em Cristo mais novo do que ele, chamado William Wilberforce, o qual atuou no Parlamento Britânico. Wilberforce se tornou o mais notável e eficaz abolicionista da história da Inglaterra. Alguns meses antes da morte de Newton, ocorrida em 21 de dezembro de 1807, o Parlamento Britânico aprovou o Decreto da Abolição do Tráfico de Escravos, o que muito alegrou Newton. 

A Ternura da Graça  

Antes de experimentar a graça salvadora de Deus, John Newton não tinha o menor receio de xingar e proferir palavrões quando relampejava, de blasfemar contra o Deus do céu, de zombar da Bíblia, de ridicularizar a consagração a Deus, de se envolver em atos depravados, nem o mínimo escrúpulo de comprar e vender seres humanos como se fossem objetos ou mercadorias. 

Entretanto, John Newton mudou completamente após a sua conversão. Mais tarde, ele se tornou pastor e exerceu o ministério pastoral por 23 anos, sempre salientando em seus sermões o tema da graça de Deus. Ele compôs e publicou centenas de hinos, inclusive o hino intitulado How Sweet the Name of Jesus Sounds [que traduzido quer dizer: “Quão doce soa o nome de Jesus”] (um nítido contraste com a época blasfema de sua vida pregressa), bem como demonstrou incessante hospitalidade em sua casa.

Ele manteve comunhão com alguns dos mais notáveis nomes do avivamento evangélico na Inglaterra, tais como George Whitefield e John Wesley; ensinou e encorajou pessoas influentes como o grande missionário William Carey, o poeta William Cowper, e o abolicionista William Wilberforce; além disso, tornou-se um dos maiores defensores do fim da escravidão na Grã-Bretanha.

Como explicar tamanha transformação na vida de um homem? Semanas antes de sua morte, já velho e debilitado, Newton explicou: “Minha memória praticamente se foi; mas ainda consigo me lembrar de duas coisas: que eu sou um tremendo pecador e que Cristo é um tremendo Salvador.[8]

Notas:
  1. Richard Cecil, The Works of the Rev. John Newton, 3ª ed., vol. 1, 1824; reimpressão, Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1985, 1:4.
  2. William E. Phipps, Amazing Grace in John Newton: Slave-Ship Captain, Hymnwriter, and Abolitionist, Macon, GA: Mercer University Press, 2001, p. 63.
  3. Ibid., p. 60.
  4. Cecil, p. 33.
  5. Ibid., p. 37.
  6. Phipps, p. 66.
  7. Ibid., p. 202.
  8. Ibid., p. 238.
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