Lucas 10.3: "Ide; eis que vos mando como cordeiros em meio de lobos"
Na comissão dos 70, Cristo dá uma palavra aos apóstolos que, da perspectiva humana, pode parecer desanimadora e frustrante: "eis que vos envio como cordeiros em meio de lobos".
Isso é acentuado ainda mais, visto que, antes disso, há um imperativo:
"Ide" (Lc. 10.3a). Com isso, a ideia que é passada é que eles deveriam
ir, mesmo sabendo das circunstâncias. Na verdade, Cristo nunca foi um
plantador de utopias, pelo contrário, sempre foi aquele que mostrava - e
mudava - a realidade.
Contudo, por mais que fosse a
revelação da realidade que os apóstolos teriam, a afirmação continua
sendo, aparentemente, desanimadora. Não seria melhor ouvir "eis que vos
envio como um leão em meio aos cervos" ou "como um cão em meio aos
pintinhos"? pelo contrário, Cristo os designa como "animais mais
fracos". O mundo é forte. Ele é devorador, tal qual um lobo voraz.
Enfrentá-lo não é fácil.
De igual modo, Jesus orienta a
que eles nada levassem (10.4) e que dependessem da bondade daqueles que o
Pai enviaria para ajudá-los (10. 5-7). Isso me faz lembrar o famoso
Salmo 23: "O Senhor é o meu pastor e nada me faltará". A
primeira sentença é uma fiel constatação: "O Senhor é o meu pastor", mas
a causa da primeira sentença é aliviadora: "nada me faltará". Então,
vejamos: eu sou um cordeiro, estou no meio de lobos que podem me
devorar, Cristo é um bom pastor que "segundo as suas riquezas, suprirá todas as nossas necessidades em glória, por Cristo Jesus." (Filipenses 4.19).
Jesus
assevera que aqueles que nos derem ouvidos, a Ele estarão ouvindo, e
quem nos rejeitar, estarão rejeitando a Ele também, e quem O rejeita,
rejeita também ao Pai, que o enviou (10.16). Não é maravilhoso saber que
estamos tão ligados a Cristo que aqueles que a nós fazem bem ou mal, a
Ele é que estão fazendo também? Isso acontecerá na conversão de Saulo.
Ele, encontrando com Jesus no caminho, é questionado: "Saulo, Saulo,
porque me persegues?". No que Saulo diz: "quem és, Senhor?" e Jesus
afirma: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (At 9.3-6). Na verdade,
Saulo perseguia a igreja, os irmãos, os da seita "do caminho".
Entretanto, Jesus afirma que a causa de seus filhos também é a dele. Ele
defende os seus. Não nos deixa sozinhos. "Ai daquele que escandalizar
um desses pequeninos que em mim crêem" (Mt. 18.6). Somos ramos ligados à
videira (Jo. 15.4). Estamos numa mesma sintonia. Sugamos vida do caule
que é Cristo. Dependemos dele para viver, pois toda a vara que nele não
dá frutos, é cortada e lançada fora (Jo. 15.6).
De fato,
não apenas a companhia ininterrupta do Senhor nos é dada (Mt. 28.20),
como também, nos é outorgado o seu poder e nos é concedido a autoridade
de seu nome. Perceba que nada é nosso. Somos convidados a nada levar, a
casa que repousaremos não é nossa. Todavia, é possivel que nos
gloriemos, mesmo usando algo que não nos pertence. Assim, Cristo diz: "Alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus" (10.20).
Vemos nesta afirmação pelo menos duas assertivas: 1) ter o nome escrito
nos céus é um motivo e tanto para se alegrar; 2) por mais que,
aparentemente, o exercício dos dons pareça ser fascinante a vista dos
outros, é bom lembrarmos que o mundo continua sendo um péssimo lugar
para firmar residência. Ele ainda continua sendo um lobo voraz. Por esta
razão, devemos andar aqui, com a cabeça acolá. Trabalhando aqui para
entesourar coisas no céu. Vivendo aqui, com saudades do lar eterno.
Até mais,
Cleison Brügger.
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